quinta-feira, 16 de abril de 2015

Selfie

"Selfie" tirada por Vivian Maier

    Sempre de vez em quando eu ia até o armário dos meus pais e escolhia algum álbum de fotos para ver (sim, ainda existem álbuns de fotos físicos). Tinha fotos de infância, da faculdade, de viagens, do casamento, da família e amigos, e muitas outras. É interessante quando você vê como uma fração de tempo congelada num pedaço de papel tem o poder de te contar tanto.
    A maior parte das fotos amadoras antigas - e quando digo "antigas", digo quaisquer fotos tiradas até o começo da Era Digital - guardam momentos especiais, histórias valiosas para seus autores/donos (até porque não sairia barato ficar gastando filme com qualquer foto de comida), que esperam recordá-las algum dia. Nessas fotos, quase sempre estão presentes mais de uma pessoa, e o local em que elas estavam, este geralmente reconhecível. Há sempre uma história interessante a ser contada por trás dessas fotos, sempre uma memória. Hoje em dia nós tiramos selfies, que geralmente, a menos que outra pessoa esteja na foto, não costumam esconder uma lembrança fascinante por trás delas.
   Não que ainda não tiremos mais fotos como antigamente, mas é que recentemente nós não nos preocupamos muito em guardar o momento, mas em registrá-lo de forma que outras pessoas irão gostar. E além das famosas selfies, tentamos tirar nossas fotos como profissionais: a paisagem mais bonita, o café-da-manhã mais apetitoso, o cachorro mais fofinho, a foto mais artística. Dê uma olhada geral nos álbuns do Facebook ou nos perfis do Instagram. Será que é isso que nós queremos lembrar quando ficarmos mais velhos? A foto do pudim que comeu ontem, do céu azul dum fim de semana qualquer, da décima selfie de academia/elevador que postou esse mês?
    Milhões de fotos amadoras surgem todos os dias, mas poucas foram criadas para recordação. A finalidade das fotos está mudando nos dias atuais, se é que já não mudou. E as redes sociais foram grandes influências para essa mudança. Se antigamente usávamos a câmera para lembrança, hoje a usamos para compartilhar. Talvez não haja um grande problema nisso tudo, aí vai de acordo com a interpretação de cada um. Pode ser que no futuro essas fotos sejam consideradas como característica da nossa geração. Mas deixo essa frase pra refletir: Nunca tiramos tanta foto como agora, o que não significa que registramos mais o nosso presente.

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